Lingua Crioula




O crioulo é uma lingua de base portuguesa,se formou algumas décadas após o início da povoada, em queocupação dos arquipélagos,mais exactamente as ilhas de Santiago e Fogo,em 1462.    Acabou por ser denominado de lingua crioula (ou seja crioulo) devido ao carácter histórico e linguístico,pois no século XVI,era usada a palavra crioulo (advem de, «pequena cria») para designar os escravos que se criavam nas terras descobertas e ocupadas pelos portugueses ,assim sendo,o termo estendeu-se depois a todos os que nasceram nesta terra e por este motivo passou a designar tambem as línguas por eles falados .  Dizemos  que o caboverdiano é um crioulo de base lexical portuguesa porque,neste caso,a língua dominante que esteve na origem da formação do crioulo e que lhe «forneceu»a maioria do seu lexico foi o português ,se fosse deferente,diriamos,por exemplo,que teria-se formado um crioulo de base inglesa ou de base francesa,assim sendo,conforme fosse a língua dominante.Como nós ,muitos outros crioulos de base portuguesa formaram-se no mundo,proviniente do contacto entre povos e línguas desencadeados pelo descobrimento,o crioulo Forro de S.Tomé,o crioulo da Guiné Bissau,o crioulo de Korlai na India,ou do Papia Kristang,na Malásia...são apenas alguns dos exemplos.
Desde a sua formação até aos nossos dias o Crioulo Cabo-verdiano manteve-se em contacto
quase exclusivo com a língua portuguesa. Privados das relações com as suas terras de origem,
no continente africano, mais precisamente na região em que se localizam agora o Senegal e a
Guiné-Bissau, os escravos africanos acabaram por deixar morrer as suas línguas maternas. Deste
modo, em Cabo Verde existem apenas duas línguas nacionais: o Crioulo e o Português. Até
hoje, só o Português ganhou o estatuto de língua oficial, embora se anuncie para breve um novo
estatuto para o Crioulo: o de “língua de ensino e da administração”.
Durante a época colonial, o Crioulo era considerado por muitos como um “Português mal
falado” ou, na melhor das hipóteses, um “dialecto” do Português. Estas ideias arreigaram-se de
tal maneira no imaginário colectivo que ainda hoje prevalecem na mente de muitos portugueses
e até de alguns cabo-verdianos. A ideia de “Português mal falado” radicava no preconceito,
expresso por alguns autores, desde o século XIX, de que os falantes de Crioulo “não eram
capazes de imitar os portugueses”. Na base da classificação do Crioulo como dialecto estão
outras razões, entre as quais o facto de o Cabo-verdiano ser sentido como muito próximo (na
forma fónica do seu léxico) embora, ao mesmo tempo, muito diferente (na sua estrutura morfológica, sintáctica e semântica) da chamada norma do Português Europeu.
Estas perspectivas erróneas tiveram consequências de vária ordem, em geral associadas ao
desprestígio e à desvalorização do Crioulo em relação ao Português. Durante séculos, embora
em vão, como se pode ver pela vitalidade actual do Cabo-verdiano, os governos portugueses
tentaram erradicar o Crioulo e substitui-lo pela sua língua. Para muitos, o Crioulo era uma
forma de falar desregrada, sem gramática, “incapaz de transmitir ideias abstractas”, que, por
isso, não se podia descrever, nem estudar, nem ensinar nas escolas. Chegou mesmo a ser
proibido nos locais públicos. Deste modo, o Crioulo foi remetido para o espaço da casa,
familiar, enquanto o Português era a língua de ensino e da vida pública, única língua de acesso à
literatura e aos bens sociais. No entanto, essas barreiras acabavam por ser artificiais, pois, na
prática, eram muito poucos os cabo-verdianos que tinham acesso à escola ou que tinham
oportunidades de adquirir uma variedade do Português e de a falar. Alguns, por outro lado,
tentavam alterar o seu Crioulo, de modo a torná-lo o mais parecido possível com o Português
que sabiam. Criaram-se, assim, variedades de Crioulo a que os próprios falantes chamavam, e
chamam ainda, mais fundas (mais afastadas do Português) ou mais leves (mais próximas do
Português). Naturalmente que os falantes analfabetos, das zonas rurais, com pouco contacto
com o Português, foram os que mais preservaram o chamado “Crioulo fundo”.
Com a independência de Cabo Verde, em 1975 (data em que o analfabetismo atingia cerca de
70% da população), houve uma mudança substancial na atitude para com o Crioulo. Este passou
a ser considerado uma língua nacional prestigiada e prestigiante e passou a ser usado em todas
as situações sociais, mesmo naquelas em que, por razões políticas, se esperava o uso da língua
oficial. No entanto, a pesada herança do passado ainda se fez sentir por muito tempo. O facto de
o Crioulo, apesar de ser a língua materna de todos os cabo-verdianos, não ter sido estudado nem
ensinado, nem usado nos contextos oficiais, atrasou a sua oficialização. Para que uma língua
possa ser oficial é necessário que passe, previamente, por um processo de normalização e por
um processo de instrumentalização. A normalização consiste na escolha de uma variedade para
servir de norma e a instrumentalização passa pela criação de meios de fixação e difusão dessa
variedade. Assim, é necessário que a língua seja dotada de uma ortografia, que seja descrita
numa gramática, que haja dicionários que fixem a forma das palavras e definam o seu valor
semântico, etc. É também indispensável que se criem as condições para o seu ensino e uso
literário e que se promova a sua divulgação nos meios de comunicação de massas…
Remetida durante séculos para o estatuto de língua de tradição oral, a língua cabo-verdiana está
agora a percorrer esse longo e difícil caminho. Neste momento, existe uma vontade política
determinada de transformar a sociedade cabo-verdiana numa comunidade bilingue de pleno
direito, em que o Crioulo e o Português sejam ambos línguas oficiais e em que os falantes, tendo
conhecimento das duas línguas, possam optar pelo uso de uma ou de outra, em todos os
contextos, públicos e privados, de um modo funcional e adequado às situações de comunicação.
Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa
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No entanto, como dissemos, o percurso é longo. Embora a língua já tenha sido dotada, desde
1998, de um alfabeto (Alfabeto unificado para a escrita do Crioulo – ALUPEC), ainda falta
preencher outros requisitos (como, por exemplo, produzir dicionários normalizadores da forma
das palavras…) para poder, nomeadamente, introduzi-la no ensino, de forma generalizada.
Na verdade, já muito trabalho foi feito. Muitos escritores e investigadores usaram o seu
conhecimento da ortografia portuguesa ou do ALUPEC para escreverem obras poéticas,
ensaios, descrições linguísticas e até romances em crioulo, ou para fazerem recolhas da tradição
oral. Entre 1987 e 1992, houve uma experiência-piloto de alfabetização de adultos em Crioulo e
em Português, para a qual foram produzidos manuais e outros materiais didácticos em
Crioulo…
No entanto, ainda hoje o ensino oficial é todo ele em língua portuguesa, com alguns custos para
os alunos monolingues que se confrontam com a difícil situação de terem de fazer a sua
iniciação à leitura e à escrita numa língua que não dominam ou dominam muito
deficientemente, contrariando as já antigas recomendações da UNESCO no sentido de pôr em
prática o direito de todo o ser humano de aprender na sua língua materna.
Entretanto, as anunciadas alterações oficiais ao estatuto da língua crioula prevêem que o Caboverdiano
venha a ser introduzido progressivamente no ensino, a par do Português,começando
no ensino superior.
A decisão de oficializar a língua crioula está a ser objecto de polémica (nem sempre bem
informada) na comunidade cabo-verdiana, pois não é fácil normalizar uma língua, isto é,
adoptar uma variedade como norma, sem que haja oposição dos falantes das outras variedades.
Neste momento, tudo aponta para que seja eleita uma das variedades de Santiago (a maior ilha e a mais está sediado o poder político).